Estava lendo os arquivos e um parágrafo me chamou atenção ("Outro aspecto habitualmente notado é a incompatibilidade entre a perda auditiva e a queixa subjetiva que parece estar relacionada a fatores sócio-culturais e não somente orgânicos: alguns idosos negam a deficiência e alguns a supervalorizam.") e me fez lembrar de um caso: sexo fem; em torno dos 70 anos, perda SN moderada para severa AO, com discriminação em torno de 70% AO; meôprocurou por indicação do ORL para uso de AASI. Fiz opção pelo modelo extra 311, com molde invisível simples. Ela só pôde comprar 1 aparelho, pois não tinha condições para compra bilateral. Minha maior preocupação era a respeito da inteligibilidade da fala, já que sua discriminação estava bastante afetada e não estaria fazendo uma adaptação bilateral. Para meu espanto, esta paciente apresentou uma queixa significativa de reverberação. Suas palavras eram: " eu falo e ouço a voz repetir...tudo fica duplicado...tem outra voz dentro do meu ouvido" e outros comentários do tipo. Fiz várias modificações acusticas e de programação (entrei em contato com todos que podia imaginar: o pessoal da matriz - Lia, Vanessa, etc; professores, um engenheiro que trabalha comigo na área ocupacional; colegas de profissão..enfim...nenhuma idéia surtia efeito!)Resolvi então entrar em contato com o ORL dela e sugeri que ele fizesse novas investigações, pois a queixa dela era incompatível com seu quadro audiometrico. Ele aceitou minha sugestão e fez uma série de novos exames, entre BERA, TC...todos eram compatíveis com os resultados da audiometria e em nada combinavam com a queixa da paciente. Como última das opções, como nada de mais grave havia sido confirmado em seus exames, resolvi apelar para a psicologia. Comecei a lidar com ela como se estivéssemos tratando de diminuir sua sensibilidade ao som do aparelho, para que ela pudesse aos poucos ter maiores benefícios....foi uma longa jornada! de mt conversa, explicações, e de ouvidos dispostos a ouvir. hj esta paciente está mt bem, satisfeita com seu aparelho e, dentro das limitações que conhece, tem se sentido mais feliz por estar convivendo mais com seus familiares. é uma grande indicadora de novos clientes para mim e em breve fará sua compra de outro aparelho para que fique com uma adaptação bilateral. Coloquei esse caso para que possamos discutir tbm sobre isso: é importante estarmos atentos aos processos clínicos, e sobretudo aos fatores psico-socio-emocionais dos nosso idosos.
Última edição por marina em Qua Jun 03, 2009 1:09 am, editado 2 vez(es)